Estudos publicados nas últimas décadas sugerem que uma parte considerável de rapazes e homens que exibem comportamentos violentos foram sujeitos a diferentes formas de trauma, violência e experiências adversas durante a sua infância e/ou juventude. Algumas análises demonstram como definições rígidas e hegemónicas das masculinidades estruturam as trajetórias de vida e as subjetividades destes sujeitos, contribuindo para a reprodução de ciclos de violência. Sabe-se que masculinidades hegemónicas classificadas como tóxicas são historicamente fatores de risco e fonte de opressão e sofrimento para as mulheres. À medida que o campo de pesquisa se ampliou, no entanto, as perspetivas expandiram-se, passando a reconhecer os impactos negativos que a construção social da masculinidade patriarcal tem também em homens e meninos, influenciando determinantemente a sua qualidade e esperança média de vida, assim como as das pessoas que lhes são próximas. Passaram, além disso, a incluir componentes interseccionais, reconhecendo que existe uma hierarquia profundamente enraizada de privilégio masculino, em termos de raça, etnia, religião, classe, nacionalidade, orientação sexual, etc. É, por isso, central considerar como a construção de masculinidade(s) varia através de diferentes culturas e fronteiras geopolíticas, bem como verificar como essas diferenças se refletem nas pesquisas globais e políticas públicas.
O presente curso de formação avançada, uma organização conjunta do Observatório das Masculinidades e do Observatório do Trauma, em parceria com os Mestrados em Sociologia e Relações Internacionais da FEUC, propõe pensar estas dimensões de forma entrecruzada, procurando refletir criticamente sobre a construção social das masculinidades no tempo e no espaço, reconhecendo as suas pressões e consequências. O curso – destinado a estudantes pós-graduados/as, investigadores/as, assistentes sociais, profissionais de saúde e ativistas – apresentará, a partir dos principais debates sobre o trabalho clínico, social, educativo e político de transformação de masculinidades, um quadro conceptual de intervenção para a promoção de masculinidades saudáveis focadas numa ética do cuidado e da empatia social.
Objetivos do Curso:
- Reflexão crítica sobre os impactos de construções, discursos e noções hegemónicas de masculinidade no bem-estar de rapazes, homens e outras pessoas.
- Análise de propostas transformadoras de normas de género e de promoção de formas equitativas de masculinidades baseadas no cuidado e na empatia.
- Apresentação de casos práticos/projetos de investigação-ação sobre as temáticas.