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Violência sexual na infância: a escuta testemunhal como dispositivo clínico e institucional

A violência sexual intrafamiliar ou incestuosa se destaca como fenômeno que afeta a infância de forma perversa e a mantém silenciada num contexto sórdido de ameaça e sofrimento. As consequências dessa modalidade de violência abrangem aspectos físicos e psicológicos e produzem índices significativos de adoecimento. O objetivo deste trabalho foi discorrer sobre os impactos traumáticos do incesto na infância e a importância da escuta testemunhal como forma de intervenção e acolhimento em um ambulatório público especializado no atendimento a vítimas de violência sexual. A escuta testemunhal das crianças e suas famílias, sustentada nos preceitos da Psicanálise, em diálogo com outros campos do saber, compreende e reconhece o sofrimento da criança vítima de violência sexual incestuosa e os impasses que envolvem a produção da verdade e da prova no discurso infantil. Esse estudo permitiu a reflexão sobre a importância do reposicionamento dos órgãos da Rede de Proteção na promoção de serviços qualificados e humanizados à criança violentada e sua família, com a implementação de modalidades de intervenção interdisciplinar e produção de cuidado pautados no refinamento da escuta da criança, tendo a escuta testemunhal como importante dispositivo clínico e institucional.

Nota biográfica

Anamaria Neves é Professora Titular do Instituto de Psicologia da UFU – Universidade Federal de Uberlândia. Graduada em Psicologia pela UFU, com mestrado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1996) e doutorado em Psicologia pela Universidade de São Paulo (2005). Cursou o Pós-Doutorado na CWASU – Child and Woman Abuse Studies Unit, instituição vinculada à London Metropolitan University, em Londres (2009-2010), orientada pela Doutora Liz Kelly. Atualmente desenvolve o Estágio Pós-doutoral no CES – Centro de Estudos Sociais, na Universidade de Coimbra, em Portugal (2023-2024), sob orientação da Doutora Tatiana Moura. É integrante do ambulatório NUAVIDAS – Núcleo de Atenção Integral a Vítimas de Agressão Sexual (Hospital de Clínicas/UFU). Desenvolve projetos de pesquisa e produções acadêmicas que incluem artigos e capítulos de livros alicerçados na Psicanálise, com ênfase nos temas violência na família; infância e adolescência; vulnerabilidade, sofrimento e trauma. Autora do livro “Família no singular, histórias no plural: a violência física de pais e mães contra filhos” (EDUFU) e co-autora do livro “Violência, abandono e destituição do poder familiar: diálogos entre a Psicanálise e o Direito” (Appris).